Marcelo esteve prudentemente afastado do palco político, nestas duas semanas em que os partidos estiveram na estrada para tentar convencer os portugueses da qualidade das suas propostas. Foi o Presidente que os mandou para lá, sentenciando que o PS deveria pôr e dispor na elaboração do orçamento, ficando os arames da geringonça obrigados a segurá-la sob pena de serem castigados nas urnas.
Aparentemente, olhando para as sondagens, o povo prepara-se para castigar toda a esquerda, dando castigo leve ao PS e ao PCP e castigo pesado ao Bloco. O povo, na sua imensa sabedoria, lá saberá no domingo se dá inteira razão às sondagens ou se vai para lá do que elas nos dizem e confirma o cenário menos provável, trocando PS por PSD e maioria de esquerda por maioria de direita.
Como não há maioria de direita sem o Chega, temos de ler com atenção aquilo que o povo estará a dizer. Os caminhos da política não se desenham a regra e esquadro, mas muitas vezes escreve-se direito por linhas tortas. Se PSD, Iniciativa Liberal e até o partido em vias de extinção (CDS) afirmaram, em campanha, recusar conversa com o partido de Ventura, então não haverá nunca uma passagem da maioria de esquerda para a direita, mas um claro voto ao centro, com o PS e o PSD continuando a valer dois terços dos votos.
O tiro presidencial saiu pela culatra, porque as condições de governabilidade não serão melhores na segunda-feira do que eram no dia em que Marcelo contribuiu para a crise política fazendo chantagem sobre os parceiros de esquerda do PS. O sonho que ele e António Costa tiveram de uma maioria absoluta foi um sonho de outono que não se confirmou no frio rigoroso do Inverno. Resta o cenário de uma governação à vista, com negociações ao centro, um "remake" da governação à Guterres, com Rui Rio a fazer de Marcelo Rebelo de Sousa. É esta a aposta do Presidente.