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Tudo se transforma no espaço duma prisão. As artes performativas são o motor deste projeto que, através da criação artística, trabalha competências dentro da cadeia para alimentar os dias dos reclusos e reclusas, que estão lá dentro, mas hão de voltar cá para fora. "Lá dentro e cá fora", são já expressões que Ana Gil e Óscar Silva enfrentam hoje com outros cuidados, porque matar o tempo lá dentro e cá fora, não tem o mesmo impacto: "Quanto tempo falta para saírem ou há quanto tempo ali estão, é um choque porque o tempo ali dentro vive-se de forma completamente diferente. Para nós tem sido uma aprendizagem."
A ideia de matar o tempo molda o espetáculo que vai ter em palco 14 reclusos e reclusas "se ninguém desistir até lá", sublinha Ana Gil, lembrando que o projeto arrancou com cerca do dobro de participações, que optaram por não continuar. No caso das reclusas, as sessões são quinzenais, por ser a primeira vez que integram um projeto desta natureza. Com os reclusos já houve outras experiências e as sessões são semanais.
Ouça aqui a reportagem da TSF.
O nível de instrução é um outro filtro: "Eles e elas partem de lugares diferentes. Há senhoras com um nível de literacia mais baixo, e as propostas de trabalho têm de ser adaptadas. A maioria dos homens já terminou o ensino secundário e há um que frequenta a universidade". Percursos e lugares diferentes, que as moldam abordagens, no contacto com as artes, teatro, poesia, música, dança e fotografia.
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Os dois criadores e intérpretes da Terceira Pessoa, estrutura com sede em Castelo Branco, nunca tinham trabalhado em contexto prisional, falando deste projeto como "uma experiência íntima". Julho é a data marcada para o espetáculo, no Teatro Municipal da Guarda, e em setembro estreia um filme documentário, da autoria de Tiago Moura. Há ainda uma conferência final, organizada pelo Estabelecimento Prisional, refletindo sobre o lugar da arte em contexto prisional, num projeto que é monitorizado pelo Instituto Piaget de Viseu, já a pensar na reinserção social, e apoiado pela DGArtes.
"O homem que matou o tempo" é ainda um nome provisório, mas o tempo há de fazer-se ao caminho.